quarta-feira, 24 de junho de 2009

A motivação venceu a crise
A edição deste ano debateu os paradigmas da nova “economia verde” e confirmou o engajamento das empresas na busca por um desenvolvimento sustentável. Sob o tema “Rumo a uma nova economia global: A transformação das pessoas, das empresas e da sociedade”, a Conferência Internacional Ethos 2009 chegou ao final com a participação total de 1.357 pessoas, originárias de várias partes do Brasil e do exterior. A organização do evento contabilizou 759 inscritos, 115 jornalistas credenciados, 71 palestrantes e 47 convidados, que estiveram envolvidos durante quatro dias em seis painéis, seis mesas-redondas, cinco oficinas, três plenárias e duas atividades culturais. O evento foi realizado entre 15 e 18 de junho no Hotel Transamérica, em Santo Amaro, zona sul de São Paulo. Muito satisfeito, apesar do evidente cansaço, o presidente do Ethos, Ricardo Young definiu a 11ª edição da conferência como surpreendente: “Em um ano de crise, com cortes de investimentos, ficamos em dúvida se haveria mobilização entre as empresas. Elas não só fizeram isso, com a decisão de enviar seus representantes, como também elevaram sobremaneira seu grau de comprometimento com os temas debatidos”. Em comparação com a edição de 2008, os conteúdos de cada sessão foram concebidos no sentido de discutir e mostrar como devem funcionar na prática os novos paradigmas que vão nortear uma economia verde, inclusiva e responsável em substituição ao velho modelo. Ricardo Young avaliou que “a crise acelerou a urgência do desenvolvimento sustentável. As pessoas entendem que o futuro é hoje e querem respostas. Elas estão cada vez menos tolerantes com as divagações”. Para o presidente do Ethos, “a qualidade das contribuições dos conferencistas a partir dos debates foram muito boas. Mesmo as críticas serão consideradas, porque foram muito bem fundamentadas.” Realizadas após as plenárias e mesas-redondas, as rodas de diálogo, uma novidade deste ano, foram oportunidades de aprofundamento das discussões que registraram um elevado índice de adesão entre os participantes. Transparência das empresas Ficou claro na conferência que as empresas precisam colocar em foco, daqui para a frente, o novo consumidor, muito mais consciente e preocupado com o meio ambiente. Segundo Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu, o consumidor passou a ser solidário e a ter a percepção de que “estamos todos no mesmo barco”, quando sente que a corporação está verdadeiramente comprometida com práticas sustentáveis. “O atual sistema econômico é agressivo e desumanizador, pois leva as pessoas a ter uma felicidade baseada em bem-estar material e esse impulso de acumulação de bens deve ser um dos primeiros sintomas a serem combatidos. Para isso, é necessária uma grande articulação entre todos os setores da sociedade”, disse ele, em uma das atividades de que participou. Para Jodie Thorpe, diretora de Economias Emergentes da SustainAbility, em tempos de crise econômica as empresas apostam no engajamento de seus stakeholders para a reconstituição da confiança em suas atividades. “Entender qual é o valor dos relatórios de sustentabilidade e a importância do fortalecimento do diálogo com seus públicos é um dos desafios para as empresas”, ressaltou. Arab Hoballa, representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), alertou que é preciso união entre sociedade, empresas e governos para que o atual modelo capitalista de consumo sofra uma profunda transformação. “Podemos dizer que há 40 ou 50 anos a questão primordial era a produção. Não se discutia consumo. Isso está mudando e hoje temos de decidir: ou vivemos ou nos destruímos”, disse. Meio ambiente em foco Como não poderia deixar de ser, os debates sobre a temática ambiental foram os mais acalorados. A Amazônia, as fontes de produção de energia e o aquecimento global foram alguns dos muitos temas ambientalistas apresentados durante a conferência. Foi consenso entre os debatedores que a pressão social é a única força capaz de apressar as decisões, sobretudo as das agendas positivas do governo e do Legislativo, e que as parcerias entre ministérios e diversos setores da sociedade são o principal caminho para a implementação de ações sustentáveis. Citando a já conhecida frase “crescer por crescer é a filosofia do câncer”, o professor da PUC-SP Ladislau Dowbor ilustrou as falsas realidades forjadas pelos números escondidos do PIB: “Num mundo em que dois terços da população – cerca de 4 bilhões de pessoas – não têm voz e no qual desastres ecológicos colaboram para o incremento do PIB porque geram fluxo de caixa, está claro que há algo de muito errado com os atuais indicadores de crescimento”. A secretária do Ministério do Meio Ambiente, Samyra Crespo, lembrou que há dez anos não seria possível abrir uma conferência em torno da Carta da Terra e com parcerias entre setores empresariais, não-governamentais e governo. De acordo com Samyra, “o Ministério do Meio Ambiente é totalmente contra o licenciamento da rodovia BR-319, que liga Porto Velho a Manaus, sem as contrapartidas ambientais, e contra os incentivos à grilagem de terras que estão contidos em artigos da MP458, a ‘MP da Grilagem’, conforme os ambientalistas”. Para Luiz Fernando Furlan, ex-presidente do conselho administrativo da Sadia, comparou o desmatamento de florestas no norte e no sul do país e a evolução do desenvolvimento dessas regiões – enquanto a Mata Atlântica foi desmatada em sua quase totalidade (93%) para a produção agropecuária, da Amazônia ainda restam 73%. “A preocupação com a Amazônia ultrapassa os limites setoriais, mas é uma prioridade planetária. Até o secretário-geral da ONU fez um apelo para que o mundo coma menos carne”, lembrou o ex-ministro do Desenvolvimento. A redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) só será possível por meio de um pacto global entre sociedade, empresas e governo. É no que acredita Soren Petersen, coordenador de redes e parcerias do Pacto Global das Nações Unidas. Petersen salientou que desde 2007, quando o IPCC lançou o relatório sobre as mudanças climáticas, a ONU vem monitorando as ações de várias companhias do mundo, no que diz respeito à sustentabilidade. “Criamos um pacto chamado Caring for Climate, do qual participam mais de 300 empresas de todo o mundo. É uma grande oportunidade para esses empresários se comprometerem com metas e estratégias de diminuição de impactos ambientais e sociais”, disse. Conforme Antônio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o panorama global é muito pior do que imaginamos. Até os cientistas mais conservadores e céticos estão preocupados com o caminho que estamos seguindo, um caminho desconhecido e sem volta. Na opinião de Nobre, mesmo o cenário descrito pelo IPCC em 2007 é mais ameno do que realidade. “Não sou alarmista, mas as projeções são desoladoras. Se não tomarmos atitudes firmes e rápidas, não sei se teremos tempo. É preciso ter bom senso e decisão. Não existe mais espaço para discussões ideológicas, sejam econômicas ou ambientais. A questão agora é de sobrevivência”, alertou. Legislação ambiental Empresários, dirigentes sindicais e de associações indígenas, ambientalistas e jornalistas, num total de 17 líderes da sociedade civil, participaram, durante a conferência, de ato público promovido pelo Instituto Ethos em defesa da legislação ambiental brasileira e contra a sanção da MP 458, a chamada MP da Grilagem. Setores da sociedade, representados especialmente pela bancada ruralista no Congresso, foram duramente criticados no ato público, que aconteceu na tarde do dia 18, último dia da Conferência Ethos 2009. Eles são acusados de tentar sabotar a legislação ambiental brasileira, emendando a medida provisória com artigos que favorecem grileiros e abrem espaço para o desmatamento. Para Júlio Barbosa, do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), a aprovação da MP 458 representa um “desmonte da política ambiental brasileira”. Segundo ele, o item que dá garantia de título da terra após três anos de posse abre espaço para a legalização da grilagem, renegando a luta de 20 anos pelos direitos ambientais na Amazônia. O Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, por meio de um depoimento em vídeo, pronunciou-se contrário às emendas que descaracterizam a MP 458. Ele reafirmou o perigo que habita o Congresso, atualmente dominado pela bancada ruralista, a qual acusou de práticas “terroristas”, como a falsificação de mapas para que o Código Florestal seja modificado. O representante da empresa de cosméticos Natura, Guilherme Leal, disse que grande parte do empresariado não aceita mais a dilapidação dos recursos naturais em prol do interesse de poucos. Segundo ele, o Brasil vive uma oportunidade histórica de falar mais alto, “porque tem uma situação macroeconômica bastante consolidada e um patrimônio ambiental único”. O ato público terminou em tom emocionado, com a platéia de cerca de 800 pessoas cantando o Hino Nacional. Veja a cobertura completa no hot site da Conferência Internacional Ethos 2009. Pela Redação Envolverde / Edição de Benjamin S. Gonçalves Legenda da foto: Ato público em defesa da legislação ambiental brasileira é realizado durante a conferência. Crédito: Claudia Perroni
STJ diz que não é crime pagar por sexo com menores de idade e revolta juízes e promotores Publicada em 23/06/2009 às 17h38mFabiana Parajara, O Globo, Portal RPC

SÃO PAULO e CURITIBA - A Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul vai recorrer da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que negou ser crime pagar por sexo com menores de idade que se prostituem। Na semana passada, o ministro Arnaldo Esteves Lima, relator do caso, e os demais ministros da Quinta Turma do STJ mantiveram a decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul que rejeitou acusação de exploração sexual de menores contra dois réus, por entender que cliente ou usuário de serviço oferecido por prostituta não se enquadra no crime previsto no artigo 244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A decisão revoltou magistrados, promotores e defensores dos direitos da Criança e do Adolescente. Segundo o processo, os dois réus, que não tiveram os nomes revelados, contrataram os serviços de três garotas de programa que estavam em um ponto de ônibus, mediante o pagamento de R$ 80 para duas adolescentes, que na época tinham 12 e 13 anos, e R$ 60 para uma mulher. O programa foi realizado em um motel, em 2006. O Tribunal de Mato Grosso do Sul absolveu os dois por considerar que as adolescentes já eram prostitutas reconhecidas, mas ressaltou que a responsabilidade penal dos apelantes seria grave caso eles tivessem iniciado as vítimas na prostituição. Para especialistas em Direito da Criança e do Adolescente, a decisão abre um precedente perigoso. - É uma aberração, uma interpretação equivocada e absurda do Estatuto da Criança e do Adolescente. O estatuto é claro ao afirmar que a exploração de menores é um crime permanente. Não importa quem iniciou o processo, mas todos aqueles que se utilizam ou participam do esquema têm de ser punidos - afirma Ariel de Castro Alves, membro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Para a procuradora Ariadne Cantú Silva, que, na época foi promotora do processo, os tribunais desconsideraram que as duas menores já tinham sofrido. - O processo deixou muito claro que as meninas não tinham qualquer domínio de sua liberdade sexual. Não era uma opção. Elas entraram na prostituição por viverem em situação de risco. A decisão levou em conta apenas um Código Penal ultrapassado e desprezou o ECA, que é uma legislação moderna e mundialmente reconhecida - afirma Ariadne. O juiz estadual absolveu os réus porque, de acordo com ele, "as prostitutas esperam o cliente na rua e já não são mais pessoas que gozam de uma boa imagem perante a sociedade". O magistrado afirma ainda que a "prostituição é uma profissão tão antiga que é considerada no meio social apenas um desregramento moral, mas jamais uma ilegalidade penal". O STJ manteve essa posição e apenas condenou os dois jovens por portarem material pornográfico. Além do programa, eles aproveitaram para fazer fotos das meninas nuas. - A decisão é quase uma licença para que o abuso e a exploração sejam cometidos sem punição. Atualmente, casos como esses dificilmente são punidos. É um processo difícil, que envolve constrangimentos e, muitas vezes, ameaças às vítimas e aos familiares delas. Quando se pode punir, temos uma decisão absurda dessas - diz Alves. Alves afirma que os conselheiros do Conanda ainda não definiram uma estratégia para tentar derrubar a decisão, mas afirma que o conselho está confiante de que ela será derrubada no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, caso o STF não reverta a decisão, o caso poderá levado para cortes internacionais. - Essa decisão não fere só o ECA ou a Constituição, mas também os acordos internacionais assinados pelo Brasil sobre proteção de crianças e adolescentes. O caso poderá ser levado, por exemplo, à OEA (Organização dos Estados Americanos) - diz. Para o promotor Murillo Digiácomo, do Centro de Apoio Operacional às Promotorias (Caop) de Infância e Juventude do Ministério Público do Paraná, o caso é uma vergonha para o Brasil no cenário internacional. - É uma situação inqualificável. Qualquer pessoa que entende minimamente de direito da criança, qualquer cidadão, fica chocado. Como uma corte de Justiça pode tomar uma atitude dessa, contrária a tudo o que a lei determina? A gente fica perplexo - diz o promotor. Para os especialistas, não punir quem explora sexualmente crianças e adolescentes é ignorar que há uma rede criminosa agindo. - Colocar o cliente como não responsável pela exploração é um pensamento que viola direitos humanos e incentiva a impunidade. É um grande retrocesso - afirma Neide Castanha, pesquisadora e presidente do Comitê de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Cultura Não Precisa de Despachantes

(por 'direto da fonte' - blog.estadao.com.br)

Juca Ferreira quer, na reforma da Lei Rouanet, acabar com 'o comércio e a burocracia' e oferecer vida cultural a mais pessoas

Depois de um dia correndo atrás de Juca Ferreira por São Paulo, foi na área das autoridades do aeroporto de Congonhas, quase na porta do avião, que a coluna conseguiu alcançá-lo. Assim como Gilberto Gil, seu antecessor no Ministério da Cultura, Juca Ferreira é um ministro em trânsito. Desde que desfraldou a bandeira da reforma da Lei Rouanet, faz questão de vender seu peixe in loco. Não por acaso, no Rio e em São Paulo que encontram as plateias mais hostis.

É nessas duas cidades que, segundo ele, se concentram quase todos os recursos investidos a partir da renúncia fiscal, muitos deles em shows de celebridades. E o MinC não tem como impedir, pois não há nada de ilegal nisso, nos termos da lei atual. Nesta conversa com a coluna, Ferreira põe os pingos nos iis, conta suas preferências como consumidor cultural e avisa: “Precisamos de um novo texto que defina melhor essas situações.”

Qual o principal obstáculo na sua cruzada para modificar a Lei Rouanet? A concentração excessiva (de recursos da lei) em duas cidades, São Paulo e Rio. Alguns produtores que conhecem o caminho das pedras estão resistindo às mudanças. Fizemos debates em 19 Estados e neles a aceitação é absoluta, já que os recursos não chegam lá.

Existem muitos “atravessadores” no processo entre a aprovação do projeto e a captação de recursos? Essa intermediação existe, sim, mas não é legal. Eu diria que entre 20% e 30% dos recursos investidos são desperdiçados em atividades desnecessárias e burocracia. A ideia é acabar com o comércio da intermediação, com esses despachantes da cultura. Ela não precisa deles.

O que o sr. responde aos que acusam a reforma de “dirigismo cultural”? Vamos usar basicamente três critérios (para distribuição de recursos). Primeiro: projetos que fortaleçam a economia da cultura. Queremos empresas culturais fortes e projetos viáveis. Segundo: projetos que gerem acessibilidade. Os números de acesso à cultura no País são muito ruins. Não se consegue envolver 20% da população no consumo cultural em nenhuma área. Em terceiro: queremos financiar projetos que contribuam para desenvolver as linguagens e da estética .

Os lobbies contra isso são muito fortes? O lobby é quase inevitável na democracia. Haverá pressões, afinal é muito dinheiro - este ano, a Lei Rouanet distribuirá R$ 1,3 bilhão. Mas veja, só 3% do proponentes ficam com mais da metade dos recursos. Esses vão se mexer, obviamente. Seria ingenuidade não esperar isso. Em Minas, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará e Bahia esse dinheiro não chega. Vamos fazer uma revolução no país.

O sr. já sofreu muito assédio dos produtores? Existe uma pressão legítima. É normal, as pessoas querem saber do seu projeto, dos atrasos. Agora, uma pressão indecente - eu chamaria assim - eu nunca sofri. Mas se aparecer, eu tenho bom humor para enfrentar.

O sr. não acha que os ingressos de teatro no Brasil são caros demais? Tem gente que capta pela Lei Rouanet e vende ingressos caríssimos, que só a classe A paga. Se entrou dinheiro público, tem que baratear o ingresso. Hoje não há essa exigência. Tem projeto que recebe o dinheiro - que é público - e não barateia um tostão. Por isso suspendemos o patrocínio do Cirque du Soleil. E hoje, sem dinheiro público, o custo da bilheteria continua o mesmo. Por isso queremos mudar a Lei Rouanet.

O ministro Orlando Silva, dos Esportes, elaborou uma espécie de Lei Rouanet esportiva. Isso cria uma divisão entre esporte e cultura? A coisa não funciona tão mecanicamente assim. Agora, os mesmos problemas que vivemos nesses 18 anos o esporte vai viver. Haverá também uma concentração em cima dos atletas já reconhecidos.

O sr. é um dos fundadores do PV. Mas em São Paulo, apoiou Marta Suplicy, enquanto o partido ficou com Kassab... Eu sou da oposição à direção do partido. Não apoio a presidência do PV e nem a orientação política que eles chamam de pragmática. Aliás, eu daria a isso outro nome...

Fernando Gabeira terá seu apoio para governador no Rio? Se Gabeira for candidato a governador, eu não apóio. Mas sim, se ele for candidato ao Senado.

O sr. costuma ir ao teatro? Como é sua vida de espectador? Minha vida cultural é limitada pelo excesso de trabalho. Mas assisti ao show da Tetê Espíndola em Brasília. E também o do Milton Nascimento e o filme Che, além da peça do Wagner Moura e o show do Caetano Veloso, do qual, aliás, gostei muito. Estou me programando para ver a peça da Fernanda Montenegro.

Existe um projeto de lei do senador Eduardo Azeredo que prevê a criminalização de práticas corriqueiras na internet, como download de música. Qual a sua opinião sobre esse projeto? Não gosto dele. Tenho medo de que se sacrifique a grande conquista que a rede representa - a liberdade absoluta de expressão e a possibilidade das trocas diretas de conteúdos de diversos padrões culturais. A gente não deve ter medo desse nível de liberdade. A população tem maturidade para desenvolver seu senso crítico e fazer s

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Obama faz discurso histórico sobre “novo começo” com mundo islâmico no Cairo

Visite nossa página no Flickr

Washington, 2009 – O presidente Barack Obama fez um discurso histórico sobre as relações dos EUA com o mundo islâmico no Cairo. Obama expressou recentemente seu objetivo de “aproveitar essa oportunidade para apresentar uma mensagem mais ampla sobre como os Estados Unidos podem mudar para melhor suas relações com o mundo islâmico.” A mensagem do presidente deu continuidade ao seu crescente engajamento com o mundo islâmico, que começou com seu discurso de posse e continuou com sua entrevista para a TV árabe Al Arabiya, sua declaração em video ao povo Iraniano durante a celebração do Nowruz, e seu discurso na Turquia.

Obama delineou seu compromisso pessoal com um engajamento baseado em objetivos partilhados e em respeito mútuo. Ele enfocou temas específicos que causam preocupação, como o extremismo violento e o conflito Palestino-Israelense. Também falou sobre novas areas para parcerias voltadas para o futuro que servem aos interesses de todos os nossos povos.

Assista o discurso do presidente Obama no Cairo (inglês)

Pronunciamento do presidente Barack Obama no Cairo, Egito: Um novo começo

Sinto-me honrado por me encontrar na cidade eterna do Cairo e ser recebido por duas instituições notáveis. Por mais de mil anos, a Al-Azhar tem servido como farol do saber islâmico e, por mais de um século, a Universidade do Cairo tem sido uma fonte do avanço do Egito. Juntas, vocês representam a harmonia entre tradição e progresso. Agradeço sua hospitalidade e a hospitalidade do povo egípcio. Também sinto orgulho em trazer comigo a boa vontade do povo americano e a saudação de paz das comunidades muçulmanas do meu país: assalaamu alaykum.

Encontramo-nos em uma época de tensão entre os Estados Unidos e os muçulmanos do mundo todo – tensão essa arraigada nas forças históricas que vão bem além de qualquer debate atual sobre políticas. A relação entre o Islã e o Ocidente abrange séculos de coexistência e cooperação, mas também de conflitos e guerras religiosas. Mais recentemente, a tensão tem sido fomentada pelo colonialismo que negou direitos e oportunidades a muitos muçulmanos e por uma Guerra Fria na qual os países de maioria muçulmana eram tratados com frequência maior do que desejável como aliados cujas próprias aspirações não eram levadas em consideração. Além disso, a mudança avassaladora resultante da modernidade e da globalização levou muitos muçulmanos a verem o Ocidente como sendo hostil às tradições do Islã.

Extremistas violentos exploraram essas tensões em uma pequena, mas poderosa, minoria de muçulmanos. Os atentados de 11 de setembro de 2001 e os esforços contínuos desses extremistas para cometer atos de violência contra civis levaram alguns em meu país a ver o Islã como inevitavelmente hostil não apenas aos Estados Unidos e aos países ocidentais, mas também aos direitos humanos. Isso gerou mais medo e desconfiança.

Enquanto nossas relações forem definidas por nossas diferenças, fortaleceremos aqueles que semeiam mais ódio do que paz e que promovem o conflito em vez da cooperação que pode ajudar todos os nossos povos a alcançar justiça e prosperidade. Esse ciclo de suspeita e discórdia precisa acabar.

Vim aqui em busca de um novo começo entre os Estados Unidos e os muçulmanos do mundo todo; um novo começo com base no interesse e no respeito mútuos; um novo começo baseado na verdade de que os Estados Unidos e o Islã não são excludentes e não precisam estar em competição. Em vez disso, eles se sobrepõem e partilham princípios comuns – princípios de justiça e progresso; tolerância e a dignidade de todos os seres humanos.

Faço isso reconhecendo que as mudanças não podem ocorrer da noite para o dia. Nenhum discurso pode erradicar anos de desconfiança, nem posso responder no tempo que tenho todas as questões complexas que nos trouxeram a este ponto. Mas estou convencido de que para que possamos avançar, precisamos expressar de forma aberta o que sentimos em nossos corações, coisas que muitas vezes são ditas apenas a portas fechadas. É preciso que haja um esforço sustentado para um escutar o outro; aprender um com o outro; respeitar um ao outro; e buscar pontos em comum. Como o Sagrado Alcorão nos diz: "Tenha consciência de Deus e fale sempre a verdade." Isso é o que vou tentar fazer – falar a verdade da melhor maneira possível, com humildade diante da tarefa que temos à nossa frente, e firme na minha crença de que os interesses que partilhamos como seres humanos são muito mais poderosos do que as forças que nos separam.

Parte dessa convicção vem da minha própria experiência. Sou cristão, mas meu pai descendia de uma família do Quênia que engloba gerações de muçulmanos. Quando menino, passei vários anos na Indonésia e ouvia o chamado do azaan ao raiar do dia e no cair do crepúsculo. Quando jovem, trabalhei em comunidades de Chicago onde muitos encontravam paz e dignidade na fé muçulmana.

Como estudante de história, também conheço a grande dívida da civilização com o Islã. Foi o Islã – em lugares como a Universidade de Al-Azhar – que transmitiu a luz do saber por tantos séculos, preparando o caminho para a Renascença e o Iluminismo na Europa. Foi essa inovação nas comunidades muçulmanas que desenvolveu a ordem da álgebra; nosso compasso magnético e instrumentos de navegação; nosso domínio de canetas e impressão; nosso entendimento sobre a disseminação de uma doença e como curá-la. A cultura islâmica tem nos dado arcos majestosos e torres pontiagudas pairando nos ares; poesia atemporal e música acariciante; caligrafia elegante e lugares de contemplação repletos de paz. E no curso da história, o Islã tem demonstrado por meio de palavras e ações as possibilidades da tolerância religiosa e da igualdade racial.

Também sei que o Islã tem sempre sido parte da história dos Estados Unidos. A primeira nação a reconhecer o meus país foi o Marrocos. Ao assinar o Tratado de Trípoli em 1796, nosso segundo presidente, John Adams, escreveu: "Os Estados Unidos não têm em si mesmos nenhum caráter de inimizade contra as leis, a religião ou a tranquilidade dos muçulmanos." E desde nossa fundação, os muçulmano-americanos enriqueceram os Estados Unidos. Lutaram em nossas guerras, serviram no governo, defenderam os direitos civis, abriram empresas, ensinaram em nossas universidades, distinguiram-se em nossas arenas esportivas, ganharam Prêmios Nobel, construíram nosso edifício mais alto e acenderam a Tocha Olímpica. E, quando o primeiro muçulmano-americano foi eleito para o Congresso, ele prestou o juramento de defender nossa Constituição usando o mesmo Sagrado Alcorão que um dos nossos pais fundadores da nação – Thomas Jefferson – conservava em sua biblioteca pessoal.

Portanto, conheci o Islã em três continentes antes de vir à região onde ele foi revelado pela primeira vez. Essa experiência orienta minha convicção de que a parceria entre os Estados Unidos e o Islã deve se basear naquilo que é o Islã, não naquilo que não é. E considero parte da minha responsabilidade como presidente dos Estados Unidos lutar contra estereótipos negativos do Islã onde quer que surjam.

Mas esse mesmo princípio deve se aplicar à percepção muçulmana sobre os Estados Unidos Assim como os muçulmanos não se enquadram em um estereótipo rudimentar, os Estados Unidos não são o estereótipo rudimentar de um império autocentrado. Os Estados Unidos têm sido uma das maiores fontes de progresso que o mundo já conheceu. Nascemos de uma revolução contra um império. Nosso país foi fundado com base no ideal de que todos são criados iguais, e derramamos sangue e lutamos durante séculos para imprimir significado a essas palavras – dentro de nossas fronteiras e no mundo todo. Somos formados por todas as culturas, provenientes de todos os cantos da Terra e dedicados a um conceito simples: E pluribus unum: "A partir de muitos, um."

Muito se falou do fato de que um afro-americano com o nome de Barack Hussein Obama pudesse ser eleito presidente. Mas minha história pessoal não é tão original. O sonho da oportunidade para todos não se tornou realidade para todas as pessoas nos Estados Unidos, mas a promessa existe para todos que chegam à nossa terra – isso inclui cerca de 7 milhões de muçulmano-americanos em nosso país hoje que desfrutam de renda e educação acima da média.

Além disso, a liberdade nos Estados Unidos é indissociável da liberdade da prática religiosa. Por isso existe uma mesquita em todos os estados da nossa União e mais de 1.200 mesquitas dentro das nossas fronteiras. Por essa razão o governo dos EUA foi à Justiça para proteger o direito de mulheres e crianças de usar o hijab e para punir aqueles que o impedissem.

Portanto, que não haja dúvida: o Islã é parte dos Estados Unidos. E acredito que os Estados Unidos mantêm dentro de si a verdade de que, independentemente de raça, religião ou posição na vida, todos nós compartilhamos de aspirações comuns – viver em paz e segurança; ter acesso à educação e trabalhar com dignidade; amar nossos familiares, nossas comunidades e nosso Deus. Essas coisas nós compartilhamos. Essa é a esperança de toda a humanidade.

Evidentemente, o reconhecimento do humano que há em todos nós é apenas o início da nossa tarefa. Palavras apenas não podem atender às necessidades de nossos povos. Essas necessidades serão atendidas apenas se agirmos com coragem nos próximos anos; e se entendermos que os desafios enfrentados são os mesmos, e nosso fracasso em superá-los prejudicará a todos nós.

Aprendemos com a experiência recente que, quando um sistema financeiro se enfraquece em um país, a prosperidade é prejudicada em todos os lugares. Quando uma nova gripe infecta um ser humano, todos estão em risco. Quando um país busca armas nucleares, aumenta o risco de ataques nucleares em todas as nações. Quando extremistas violentos operam em uma cadeia de montanhas, as pessoas correm perigo por todo um oceano. E quando inocentes na Bósnia e em Darfur são massacrados, isso é uma mancha em nossa consciência coletiva. É isso o que significa compartilhar este mundo no século 21. Essa é a responsabilidade que temos uns com os outros como seres humanos.

Essa é uma responsabilidade difícil de assumir. Pois a história da humanidade tem sido muitas vezes um registro de nações e tribos subjugando uns aos outros em nome de seus próprios interesses. Contudo, nesta nova era, tais atitudes são contraproducentes. Dada a nossa interdependência, qualquer ordem mundial que exalte uma nação ou grupo de pessoas em detrimento de outro fracassará inevitavelmente. Portanto, seja qual for nosso pensamento sobre o passado, não podemos dele ficar prisioneiros. Nossos problemas devem ser enfrentados por meio de parceria; o progresso deve ser compartilhado.

Isso não significa que devamos ignorar fontes de tensão. Na verdade, isso sugere o oposto: devemos enfrentar essas tensões com firmeza. E, assim, com esse espírito, gostaria de falar da maneira mais clara e simples possível sobre algumas questões específicas que, acredito, precisamos finalmente enfrentar juntos.

A primeira questão que temos de enfrentar é o extremismo violento em todas as suas formas.

Em Ancara, deixei claro que os Estados Unidos não estão – e nunca estarão – em guerra com o Islã. Porém, confrontaremos implacavelmente extremistas violentos que ameacem seriamente nossa segurança. Pois rejeitamos a mesma coisa que pessoas de todas as fés rejeitam: a matança de homens, mulheres e crianças inocentes. E meu primeiro dever como presidente é proteger o povo americano.

A situação no Afeganistão demonstra as metas dos Estados Unidos e nossa necessidade de trabalhar juntos. Há mais de sete anos, os Estados Unidos perseguiram a Al Qaeda e o Taleban com amplo apoio internacional. Não o fizemos por escolha, mas por necessidade. Sei que alguns questionam ou justificam os eventos de 11 de setembro. Mas sejamos claros: a Al Qaeda matou cerca de 3 mil pessoas naquele dia. As vítimas foram homens, mulheres e crianças inocentes dos Estados Unidos e de muitas outras nações que não haviam feito nada para prejudicar ninguém. E, no entanto, a Al Qaeda optou por assassinar essas pessoas sem dó nem piedade, reivindicou o crédito pelo atentado e mesmo hoje declara constantemente sua determinação de matar de novo em escala maciça. Eles têm afiliados em muitos países e estão tentando expandir seu alcance. Essas não são opiniões a serem discutidas; esses são fatos a serem enfrentados.

Não se iludam: não queremos manter nossas tropas no Afeganistão. Não buscamos bases militares lá. É angustiante para os Estados Unidos perder nossos homens e mulheres jovens. É oneroso e politicamente difícil continuar esse conflito. Levaríamos com prazer cada um dos nossos soldados de volta para casa se pudéssemos ter certeza de que não há extremistas violentos no Afeganistão e no Paquistão determinados a matar tantos americanos quanto puderem. Mas ainda não é o caso.

É por isso que estamos fazendo uma parceria com uma coalizão de 46 países. E, apesar dos custos envolvidos, o compromisso dos Estados Unidos continuará inabalável. Na verdade, nenhum de nós deve tolerar esses extremistas. Eles já mataram em muitos países. Mataram pessoas de diversos credos – acima de tudo, mataram muçulmanos. Seus atos são irreconciliáveis com os direitos dos seres humanos, com o progresso das nações e com o Islã. O Sagrado Alcorão ensina que quem mata um inocente é como se tivesse matado toda a humanidade; e que quem salva uma pessoa é como se tivesse salvo toda a humanidade. A fé inabalável de mais de um bilhão de pessoas é muito maior que o ódio mesquinho de uns poucos. O Islã não é parte do problema de combater o extremismo violento – é parte importante da promoção da paz.

Sabemos também que o poder militar sozinho não resolverá os problemas no Afeganistão e no Paquistão. É por isso que pretendemos investir US$ 1,5 bilhão por ano nos próximos cinco anos para formar uma parceria com os paquistaneses na construção de escolas e hospitais, estradas e empresas, além de centenas de milhões em ajuda aos desabrigados. E é por isso que estamos concedendo mais de US$ 2,8 bilhões para ajudar os afegãos a desenvolver a economia e fornecer serviços dos quais as pessoas dependem.

Vamos falar também da questão do Iraque. Ao contrário da guerra do Afeganistão, a guerra do Iraque foi uma escolha que provocou fortes divergências em meu país e no mundo inteiro. Embora acredite que o povo do Iraque esteja, em última análise, melhor sem a tirania de Saddam Hussein, acredito também que os acontecimentos no Iraque lembraram os Estados Unidos da necessidade de usar a diplomacia e obter consenso internacional para resolver nossos problemas sempre que possível. De fato, podemos rememorar as palavras de Thomas Jefferson, que disse: "Espero que nossa sabedoria cresça com nosso poder e nos ensine que quanto menos o usarmos tanto maior ele será."

Atualmente, os Estados Unidos têm dupla responsabilidade: ajudar o Iraque a forjar um futuro melhor – e deixar o Iraque para os iraquianos. Deixei claro para o povo iraquiano que não buscamos bases nem reivindicamos nada de seu território ou recursos. A soberania do Iraque é dele mesmo. É por isso que ordenei a retirada de nossas brigadas de combate até agosto próximo. É por isso que honraremos nosso acordo com o governo do Iraque, democraticamente eleito, de retirar as tropas de combate das cidades iraquianas até julho e de retirar do Iraque todos os nossos soldados até 2012. Ajudaremos o Iraque a treinar suas Forças de Segurança e a desenvolver sua economia. Mas apoiaremos um Iraque seguro e unido como parceiros, jamais como patronos.

Finalmente, assim como os Estados Unidos jamais poderão tolerar a violência dos extremistas, não devemos nunca alterar nossos princípios. O 11 de Setembro foi um trauma enorme para nosso país. O medo e a raiva que provocou foram compreensíveis, mas em alguns casos nos levaram a agir de modo contrário aos nossos ideais. Estamos adotando ações concretas para mudar de rumo. Proibimos inequivocamente o uso de tortura pelos Estados Unidos, e ordenei que a prisão da Baía de Guantánamo fosse fechada no início do próximo ano.

Assim, os Estados Unidos se defenderão respeitando a soberania das nações e o Estado de Direito. E faremos isso em parceria com as comunidades muçulmanas que também estão ameaçadas. Quanto mais cedo os extremistas forem isolados e mal vistos nas comunidades muçulmanas, o quanto antes estaremos mais seguros.

A segunda maior fonte de tensão que precisamos discutir é a situação entre os israelenses, os palestinos e o mundo árabe.

Os fortes laços dos Estados Unidos com Israel são bem conhecidos. Essa ligação é inquebrantável. Ela se baseia em laços culturais e históricos e no reconhecimento de que a aspiração por uma pátria judaica está arraigada em uma história trágica que não pode ser negada.

Em todo o mundo, o povo judeu foi perseguido durante séculos, e o antissemitismo culminou em um holocausto sem precedentes. Amanhã visitarei Buchenwald, que foi parte de uma rede de campos onde os judeus eram escravizados, torturados, mortos a tiros e em câmaras de gás pelo Terceiro Reich. Seis milhões de judeus foram mortos – mais do que toda a população judaica atual de Israel. Negar esse fato não tem fundamento, é ignorante e odioso. Ameaçar Israel com sua destruição – ou repetir estereótipos vis sobre os judeus – é profundamente errado e serve somente para evocar na mente dos israelenses essa penosíssima memória e ao mesmo tempo impede a paz que o povo dessa região merece.

Por outro lado, também é inegável que o povo palestino – muçulmanos e cristãos — sofre em busca por um território. Há mais de 60 anos eles suportam a dor do deslocamento. Muitos esperam em campos de refugiados na Cisjordânia, em Gaza e em terras vizinhas por uma vida de paz e segurança que nunca conseguiram levar. Sofrem as humilhações diárias – grandes e pequenas — que vêm com a ocupação. Portanto, que não haja dúvida: a situação do povo palestino é intolerável. Os Estados Unidos não virarão as costas para a legítima aspiração do povo palestino por dignidade, oportunidade e um Estado seu.

Há décadas, há um impasse: dois povos com aspirações legítimas, cada um com uma história sofrida que torna dificílima uma conciliação. É fácil apontar culpados – para os palestinos culpar o deslocamento provocado pela fundação de Israel, e para os israelenses culpar a hostilidade constante e os ataques lançados contra eles durante toda a sua história de dentro de suas fronteiras e também de fora delas. Mas se virmos esse conflito somente por um lado ou por outro, então estaremos cegos para a verdade: a única solução é que as aspirações de ambos os lados sejam atendidas por meio de dois Estados, onde israelenses e palestinos vivam em paz e segurança.

Esse é um interesse de Israel, da Palestina, dos Estados Unidos e do mundo todo. É por isso que pretendo buscar pessoalmente esse resultado com toda a paciência que a tarefa exige. As obrigações que as partes aceitaram no plano de paz são claras. Para que chegue a paz, é hora de todos nós assumirmos nossas responsabilidades.

Os palestinos devem abandonar a violência. A resistência por meio de violência e morte é equivocada e não tem êxito. Durante séculos, os negros nos Estados Unidos sofreram o açoite dos chicote como escravos e a humilhação da segregação. Mas não foi a violência que conseguiu direitos plenos e iguais. Foi uma insistência pacífica e determinada com os ideais que estão no centro da fundação dos Estados Unidos. Essa mesma história pode ser contada por povos da África do Sul ao Sul da Ásia; do Leste Europeu à Indonésia. É uma história com uma verdade simples: a violência é um beco sem saída. Atirar mísseis em crianças que estão dormindo ou explodir mulheres idosas em um ônibus não é sinal de coragem nem de poder. Não é assim que se conquista autoridade moral; é assim que se renuncia a ela.

Agora é hora de os palestinos se concentrarem no que podem construir. A Autoridade Palestina deve desenvolver sua capacidade de governar, com instituições que atendam às necessidades de seu povo. O Hamas tem apoio entre alguns palestinos, mas eles também têm responsabilidades. Para ajudar a satisfazer as aspirações dos palestinos e para unificar o povo palestino, o Hamas deve pôr fim à violência, reconhecer acordos passados e reconhecer o direito de Israel de existir.

Ao mesmo tempo, os israelenses devem reconhecer que, assim como o direito de Israel existir não pode ser negado, o dos palestinos também não. Os Estados Unidos não aceitam a legitimidade dos contínuos assentamentos de israelenses. Essa construção viola os acordos anteriores e enfraquece os esforços para obtenção da paz. Está na hora de os assentamentos cessarem.

Israel também deve cumprir suas obrigações para garantir que os palestinos possam viver, trabalhar e desenvolver sua sociedade. E assim como devasta as famílias palestinas, a crise humanitária constante em Gaza não ajuda a segurança de Israel, tampouco a constante falta de oportunidades na Cisjordânia. O progresso na vida diária do povo palestino deve ser parte de um caminho para a paz, e Israel deve dar passos concretos para possibilitar esse progresso.

Por fim, os Estados Árabes devem reconhecer que a Iniciativa Árabe de Paz foi um importante começo, mas não o fim de suas responsabilidades. O conflito árabe-israelense não deve mais ser usado para desviar o povo das nações árabes de outros problemas. Pelo contrário, deve ser uma causa de ação para ajudar o povo palestino a desenvolver as instituições que sustentarão seu Estado; reconhecer a legitimidade de Israel; e escolher o progresso em vez de um foco contraproducente no passado.

Os Estados Unidos alinharão suas políticas com aqueles que buscam a paz e dirão em público o que dizem em particular a israelenses, palestinos e árabes. Não podemos impor a paz. Mas, em particular, muitos muçulmanos reconhecem que Israel não irá embora. Do mesmo modo, muitos israelenses reconhecem a necessidade de um Estado palestino. É chegada a hora de agirmos com base naquilo que todos sabem ser verdade.

Já houve lágrimas demais. Já houve sangue demais derramado. Todos nós temos a responsabilidade de batalhar pelo dia em que as mães de israelenses e palestinos possam ver seus filhos crescer sem medo; quando a Terra Santa de três grandes credos for o lugar de paz que Deus quis que fosse; quando Jerusalém for uma terra segura por muito tempo para judeus, cristãos e muçulmanos, e um lugar para todas as crianças de Abraão se misturarem pacificamente como na história de Isra, quando Moisés, Jesus e Maomé (que a paz esteja sobre eles) se reuniram em oração.

A terceira fonte de tensão é nosso interesse compartilhado nos direitos e nas responsabilidades das nações em relação às armas nucleares.

Essa questão tem sido uma fonte de tensão entre os Estados Unidos e a República Islâmica do Irã. Por muitos anos, o Irã definiu-se a si próprio em parte por sua oposição ao meu país, e existe de fato uma história tumultuada entre nós. No meio da Guerra Fria, os Estados Unidos tiveram um papel na derrubada de um governo iraniano eleito democraticamente. Desde a Revolução Islâmica, o Irã participou de sequestros e violência contra soldados e civis americanos. Essa história é bem conhecida. Em vez de ficar preso ao passado, deixei claro para os líderes e o povo do Irã que meu país está preparado para avançar. A pergunta agora não é contra o quê o Irã está, mas sim que futuro deseja construir.

Será difícil superar décadas de desconfiança, mas vamos prosseguir com coragem, integridade e determinação. Haverá muitas questões para serem discutidas entre nossos países, e estamos dispostos a avançar sem precondições, com base do respeito mútuo. Mas está claro para todas as partes envolvidas que, quando se trata de armas nucleares, chegamos a um ponto decisivo. Não se trata simplesmente dos interesses dos Estados Unidos. Trata-se de evitar uma corrida às armas nucleares no Oriente Médio que poderia levar esta região para um caminho extremamente perigoso.

Entendo aqueles que protestam contra o fato de alguns países terem armas que outros não têm. Nenhuma nação deve escolher e determinar que nações devem ter armas nucleares. É por isso que reafirmei enfaticamente o compromisso dos Estados Unidos de lutar por um mundo em que nenhum país tenha armas nucleares. E qualquer nação – inclusive o Irã – deve ter o direito de acesso à energia nuclear para fins pacíficos, desde que observe as responsabilidades definidas no Tratado de Não Proliferação Nuclear. Esse compromisso é parte central do tratado e deve ser observado por todos que o cumprem integralmente. E estou esperançoso de que todos os países da região possam compartilhar essa meta.

A quarta questão que abordarei é a democracia.

Sei que houve controvérsia sobre a promoção da democracia nos últimos anos e que grande parte dessa controvérsia está relacionada com a guerra no Iraque. Quero ser claro: nenhum sistema de governo pode ou deve ser imposto a uma nação por nenhuma outra.

Isso, no entanto, não diminui meu compromisso com governos que representem o desejo do povo. Cada nação dá vida a esse princípio de sua própria forma, com base nas tradições de seu povo. Os Estados Unidos não têm a pretensão de querer saber o que é melhor para todo mundo, assim como não ousaríamos criticar o resultado de uma eleição pacífica. Mas tenho uma crença inabalável de que todos os povos anseiam por determinadas coisas: a capacidade de dizer o que pensa e poder opinar sobre a forma como é governado; confiança no Estado de Direito e na administração igualitária da justiça; um governo que seja transparente e não roube o povo; a liberdade de viver como desejar. Essas ideias não são apenas americanas, trata-se de direitos humanos, e é por isso que as apoiaremos seja onde for.

Não existe um caminho direto para concretizar essa promessa. Mas sobre uma coisa não restam dúvidas: governos que protegem esses direitos acabam por ser mais estáveis, bem-sucedidos e seguros. Reprimir ideias jamais consegue eliminá-las. Os Estados Unidos respeitam o direito de todas as pessoas pacíficas e respeitadoras das leis serem ouvidas em todo o mundo, mesmo que não concordemos com elas. E daremos as boas-vindas a todos os governos eleitos pacificamente – desde que governem respeitando seu povo.

Esse último ponto é importante porque há alguns que defendem a democracia somente quando estão fora do poder; uma vez no poder, são implacáveis na supressão dos direitos dos outros. Não importa onde seja, o governo do povo e pelo povo determina um padrão único para todos aqueles que detêm o poder: é preciso manter o poder por meio de consentimento, não de coerção; é preciso respeitar os direitos das minorias e participar com espírito de tolerância e compromisso; é preciso colocar os interesses do seu povo e dos trabalhos legítimos do processo político acima de seu partido. Sem esses ingredientes, só eleições não fazem uma democracia de verdade.

A quinta questão que devemos abordar é a liberdade religiosa.

O Islã tem orgulho da sua tradição de tolerância. Vemos isso na história da Andaluzia e de Córdoba durante a Inquisição. Testemunhei isso diretamente ainda criança na Indonésia, onde cristãos devotos podiam cultuar livremente em um país de maioria muçulmana. É desse espírito que precisamos hoje. Os povos de todos os países devem ser livres para escolher e viver sua fé, com base na convicção da mente, do coração e da alma. Essa tolerância é fundamental para que a religião cresça, mas ela está sendo refutada de diversas maneiras.

Entre alguns muçulmanos, existe uma tendência perturbadora de se medir a crença de uma pessoa pela rejeição da fé de outra. A riqueza da diversidade religiosa deve ser respeitada – seja para os maronitas no Líbano, seja para os coptas no Egito. E as divergências devem ser sanadas entre os muçulmanos também, uma vez que as divisões entre sunitas e xiitas resultaram em trágica violência, particularmente no Iraque.

A liberdade de religião é essencial para que os povos possam viver juntos. Devemos sempre examinar as maneiras pelas quais a protegemos. Por exemplo, nos Estados Unidos, as regras para doações filantrópicas tornaram mais difícil para os muçulmanos cumprir com sua obrigação religiosa do zakat. É por isso que estou comprometido a trabalhar com muçulmano-americanos para garantir que eles possam cumprir o zakat.

Do mesmo modo, é importante que os países ocidentais evitem impedir que os cidadãos muçulmanos pratiquem a religião à sua maneira – por exemplo, ditando que roupa uma muçulmana deve usar. Não podemos disfarçar a hostilidade contra uma religião com o pretexto de liberalismo.

Na verdade, a fé deve nos unir. É por isso que estamos criando projetos de serviço nos Estados Unidos para unir cristãos, muçulmanos e judeus. É por isso que saudamos esforços como o diálogo inter-religioso do rei Abdullah, da Arábia Saudita, e dos líderes da Turquia na Aliança das Civilizações. Em todo o mundo, podemos transformar o diálogo inter-religioso em serviço inter-religioso, de modo que as pontes entre os povos resultem em ações – seja combatendo a malária na África, seja fornecendo ajuda depois de um desastre natural.

A sexta questão que quero abordar são os direitos da mulher.

Sei que há muito debate sobre essa questão. Rejeito a opinião de alguns no Ocidente de que a mulher que escolhe cobrir seu cabelo seja de alguma forma menos igual, mas realmente acredito que a uma mulher que seja negada a educação é negada a igualdade. E não é coincidência que os países que dão boa educação às mulheres têm probabilidade muito maior de serem prósperos.

Agora, permitam-me ser claro: problemas relacionados com a igualdade das mulheres não são de modo algum somente uma questão para o Islã. Na Turquia, no Paquistão, em Bangladesh e na Indonésia, vimos países de maioria muçulmana eleger uma mulher para liderá-los. Enquanto isso, a luta pela igualdade das mulheres continua em muitos aspectos da vida americana e em vários outros países.

Nossas filhas podem contribuir para a sociedade tanto quanto nossos filhos, e nossa prosperidade comum avançará ao permitirmos que toda a humanidade – homens e mulheres – alcancem seu pleno potencial. Não acredito que as mulheres devem fazer as mesmas escolhas dos homens para serem iguais e respeito as mulheres que escolhem viver sua vida em papéis tradicionais. Mas isso deve ser escolha delas. É por isso que os Estados Unidos serão parceiros de qualquer país de maioria muçulmana para apoiar a expansão da alfabetização de meninas e ajudar mulheres jovens a buscar emprego por meio de microfinanciamento que ajuda as pessoas a realizar seus sonhos.

Por fim, quero discutir desenvolvimento econômico e oportunidades.

Sei que para muitos a face da globalização é contraditória. A internet e a televisão podem levar conhecimento e informação, mas também sexualidade ofensiva e violência sem sentido. O comércio pode trazer novas riquezas e oportunidades, mas também enormes rupturas e mudanças nas comunidades. Em todas as nações – inclusive na minha – essa mudança pode causar medo. Medo de que devido à modernidade perderemos o controle sobre nossas escolhas econômicas, nossas políticas e, mais importante, nossas identidades – aquelas coisas que mais estimamos sobre nossas comunidades, nossos familiares, nossas tradições e nossa fé.

Mas também sei que o progresso humano não pode ser negado. Não é preciso haver contradição entre desenvolvimento e tradição. Países como o Japão e a Coreia do Sul fizeram suas economias crescer ao mesmo tempo que mantiveram suas culturas distintas. O mesmo é verdade para o progresso fantástico nos países de maioria muçulmana, de Kuala Lumpur a Dubai. Nos tempos antigos e no nosso tempo, as comunidades muçulmanas têm estado na vanguarda da inovação e da educação.

Isso é importante porque nenhuma estratégia de desenvolvimento pode se basear apenas no que vem do solo, nem pode ser mantida enquanto os jovens estiverem sem trabalho. Muitos Estados do Golfo desfrutaram grande riqueza em consequência do petróleo, e alguns estão começando a se concentrar em um desenvolvimento mais amplo. Mas todos nós precisamos reconhecer que a educação e a inovação serão a moeda do século 21, e em muitas comunidades muçulmanas continua sendo feito pouco investimento nessas áreas. Estou reforçando esses investimentos no meu país. E embora os Estados Unidos tenham se concentrado em petróleo e gás nesta parte do mundo no passado, buscamos agora um envolvimento mais amplo.

Na educação, expandiremos nossos programas de intercâmbio e aumentaremos as bolsas de estudo, como a que levou meu pai para os Estados Unidos, ao mesmo tempo que estimularemos mais americanos a estudar em comunidades muçulmanas. E daremos estágios nos Estados Unidos a estudantes muçulmanos promissores; investiremos em aprendizado on-line para professores e crianças no mundo todo; e criaremos uma nova rede on-line, de modo que um adolescente no Kansas possa se comunicar instantaneamente com um adolescente no Cairo.

No desenvolvimento econômico, criaremos um novo corpo de voluntários empresariais para fazer parceria com seus pares em países de maioria muçulmana. E organizaremos uma Cúpula de Empreendedorismo este ano para identificar como podemos aprofundar os laços entre líderes empresariais, fundações e empreendedores sociais nos Estados Unidos e em comunidades muçulmanas de todo o mundo.

Em ciência e tecnologia, lançaremos um novo fundo para financiar o desenvolvimento tecnológico em países de maioria muçulmana e ajudar a transferir ideias para o mercado de modo a gerar empregos. Abriremos centros de excelência científica na África, no Oriente Médio e no Sudeste Asiático e indicaremos novos enviados da área de Ciências para colaborar em programas que desenvolvam novas fontes de energia, criem empregos "verdes", digitalizem registros, limpem a água e plantem novas culturas. E hoje estou anunciando um novo esforço global com a Organização da Conferência Islâmica para erradicar a pólio. E também ampliaremos as parcerias com as comunidades muçulmanas para promover a saúde infantil e materna.

Todas essas coisas precisam ser feitas em parceria. Os americanos estão prontos a se unirem a cidadãos e governos, organizações comunitárias, líderes religiosos e empresários em comunidades muçulmanas ao redor do mundo para ajudar nossos povos a buscar uma vida melhor.

As questões que descrevi não serão fáceis de resolver. Mas temos a responsabilidade de nos unir em prol do mundo que queremos – um mundo em que extremistas não mais ameacem nossos povos e os soldados americanos tenham voltado para casa; um mundo em que palestinos e israelenses estejam seguros em seus próprios Estados, e a energia nuclear seja usada para fins pacíficos; um mundo em que os governos prestem serviços a seus cidadãos e os direitos de todos os filhos de Deus sejam respeitados. Esses são interesses mútuos. Esse é o mundo que queremos. Mas só podemos consegui-lo juntos.

Sei que há muitos – muçulmanos e não muçulmanos – que perguntam se podemos criar esse novo começo. Alguns estão ansiosos para pôr lenha na fogueira da divisão e impedir o caminho do progresso. Alguns sugerem que o esforço não vale a pena – que estamos fadados ao desentendimento e as civilizações estão condenadas a entrar em choque. Muitos outros são simplesmente céticos de que mudanças reais possam ocorrer. Há muito medo, muita insegurança. Mas se escolhermos ficar presos ao passado nunca avançaremos. E quero dizer em especial aos jovens de todas as fés, de todos os países – vocês, mais do que ninguém, têm a capacidade de reconstruir este mundo.

Todos nós compartilhamos este mundo apenas por um curto espaço de tempo. A pergunta é se usamos esse tempo para nos concentrar naquilo que nos separa ou se nos empenhamos em um esforço – um esforço sustentado – para encontrar interesses em comum, colocar nosso foco no futuro que buscamos para nossos filhos e respeitar a dignidade de todos os seres humanos.

É mais fácil começar as guerras do que terminá-las. É mais fácil culpar os outros do que olharmos para nós mesmos; ver o que é diferente em alguém do que encontrar coisas em comum. Mas devemos escolher o caminho certo, não apenas o caminho fácil. Há também uma regra que repousa no cerne de todas as religiões – que devemos fazer aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem a nós. Essa verdade transcende nações e pessoas – uma crença que não é nova; que não é de negros, brancos ou marrons; que não é de cristãos, muçulmanos ou judeus. É uma crença que pulsava no berço da civilização e que ainda pulsa no coração de bilhões de pessoas hoje em dia. É a fé nos outros e é o que me trouxe aqui hoje.

Temos o poder de construir o mundo que queremos, mas somente se tivermos a coragem de fazer um novo começo, tendo em mente o que foi escrito.

O Sagrado Alcorão nos diz: "Ó humanidade! Nós vos criamos homem e mulher e vos tornamos nações e tribos para vos conhecerdes uns aos outros."

O Talmude nos diz: "Toda a Torá tem por finalidade a promoção da paz."

A Bíblia Sagrada nos diz: "Abençoados sejam os pacificadores porque eles serão chamados de filhos de Deus."

Os povos do mundo podem viver juntos em paz. Sabemos que essa é a visão de Deus. Agora, esse deve ser nosso trabalho aqui na Terra. Muito obrigado. E que a paz de Deus esteja com vocês.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Nota pública contra o desmonte da política ambiental brasileira As organizações da sociedade civil abaixo assinadas vêm a público manifestar, durante a semana do meio ambiente, sua extrema preocupação com os rumos da política socioambiental brasileira e afirmar, com pesar, que esta não é uma ocasião para se comemorar. É sim momento de repúdio à tentativa de desmonte do arcabouço legal e administrativo de proteção ao meio ambiente arduamente construído pela sociedade nas últimas décadas. Recentes medidas dos poderes Executivo e Legislativo, já aprovadas ou em processo de aprovação, demonstram claramente que a lógica do crescimento econômico a qualquer custo vem solapando o compromisso político de se construir um modelo de desenvolvimento socialmente justo, ambientalmente adequado e economicamente sustentável. 1. Já em novembro de 2008 o Governo Federal cedeu pela primeira vez à pressão do lobby da insustentabilidade ao modificar o decreto que exigia o cumprimento da legislação florestal (Decreto 6514/08) menos de cinco meses após sua edição. 2. Pouco mais de um mês depois, revogou uma legislação da década de 1990 que protegia as cavernas brasileiras para colocar em seu lugar um decreto que põe em risco a maior parte de nosso patrimônio espeleológico. A justificativa foi que a proteção das cavernas, que são bens públicos, vinha impedindo o desenvolvimento de atividades econômicas como mineração e hidrelétricas. 3. Com a chegada da crise econômica mundial, ao mesmo tempo em que contingenciava grande parte do já decadente orçamento do Ministério do Meio Ambiente (hoje menor do que 1% do orçamento federal), o governo baixava impostos para a produção de veículos automotores. Fazia isso sem qualquer exigência de melhora nos padrões de consumo de combustível ou apoio equivalente ao desenvolvimento do transporte público, indo na contramão da história e contradizendo o anúncio feito meses antes de que nosso País adotaria um plano nacional de redução de emissões de gases de efeito estufa. 4. Em fevereiro deste ano uma das medidas mais graves veio à tona: a MP 458 que, a título de regularizar as posses de pequenos agricultores ocupantes de terras públicas federais na Amazônia, abriu a possibilidade de se legalizar a situação de uma grande quantidade de grileiros, incentivando, assim, o assalto ao patrimônio público, a concentração fundiária e o avanço do desmatamento ilegal. Ontem (03/06) a MP 458 foi aprovada pelo Senado Federal. 5. Enquanto essa medida era discutida - e piorada - na Câmara dos Deputados, uma outra MP (452) trouxe, de contrabando, uma regra que acaba com o licenciamento ambiental para ampliação ou revitalização de rodovias, destruindo um dos principais instrumentos da política ambiental brasileira e feita sob medida para se possibilitar abrir a BR 319 no coração da floresta amazônica, com motivos por motivos político-eleitorais. Essa MP caiu por decurso de prazo, mas a intenção por trás dela é a mesma que guia a crescente politização dos licenciamentos ambientais de grandes obras a cargo do Ibama, cuja diretoria reiteradamente vem desconhecendo os pareceres técnicos que recomendam a não concessão de licenças para determinados empreendimentos. 6. Diante desse clima de desmonte da legislação ambiental, a bancada ruralista do Congresso Nacional, com o apoio explícito do Ministro da Agricultura, se animou a propor a revogação tácita do Código Florestal, pressionando pela diminuição da reserva legal na Amazônia e pela anistia a todas as ocupações ilegais em áreas de preservação permanente. Essa movimentação já gerou o seu primeiro produto: a aprovação do chamado Código Ambiental de Santa Catarina, que diminui a proteção às florestas que preservam os rios e encostas, justamente as que, se estivessem conservadas, poderiam ter evitado parte significativa da catástrofe ocorrida no Vale do Itajaí no final do ano passado. 7. A última medida aprovada nesse sentido foi o Decreto 6848, que, ao estipular um teto para a compensação ambiental de grandes empreendimentos, contraria decisão do Supremo Tribunal Federal, que vincula o pagamento ao grau dos impactos ambientais, e rasga um dos pontos principais da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, assinada pelo País em 1992, e que determina que aquele que causa a degradação deve ser responsável, integralmente, pelos custos sociais dela derivados (princípio do poluidor-pagador). Agora, independentemente do prejuízo imposto à sociedade, o empreendedor não terá que desembolsar mais do que 0,5% do valor da obra, o que desincentiva a adoção de tecnologias mais limpas, porém mais caras. 8. Não fosse pouco, há um ano não são criadas unidades de conservação, e várias propostas de criação, apesar de prontas e justificadas na sua importância ecológica e social, se encontram paralisadas na Casa Civil por supostamente interferirem em futuras obras de infra-estrutura, como é o caso das RESEX Renascer (PA), Montanha-Mangabal (PA), do Baixo Rio Branco-Jauaperi (RR/AM), do Refúgio de Vida Silvestre do Rio Tibagi (PR) e do Refúgio de Vida Silvestre do Rio Pelotas (SC/RS). Diante de tudo isso, e de outras propostas em gestação, não podemos ficar calados, e muito menos comemorar. Esse conjunto de medidas, se não for revertido, jogará por terra os tênues esforços dos últimos anos para tirar o País do caminho da insustentabilidade e da dilapidação dos recursos naturais em prol de um crescimento econômico ilusório e imediatista, que não considera a necessidade de se manter as bases para que ele possa efetivamente gerar bem-estar e se perpetuar no tempo. Queremos andar para frente, e não para trás. Há um conjunto de iniciativas importantes, que poderiam efetivamente introduzir a variável ambiental em nosso modelo de desenvolvimento, mas que não recebem a devida prioridade política, seja por parte do Executivo ou do Legislativo federal. Há anos aguarda votação pela Câmara dos Deputados o projeto do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE) Verde, que premia financeiramente os estados que possuam unidades de conservação ou terras indígenas. Nessa mesma fila estão dezenas de outros projetos, como o que institui a possibilidade de incentivo fiscal a projetos ambientais, o que cria o marco legal para as fontes de energia alternativa, o que cria um sistema de pagamento por serviços ambientais, dentre tantos que poderiam fazer a diferença, mas que ficam obscurecidos entre uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e outra. E enquanto o BNDES ainda tem em sua carteira preferencial os tradicionais projetos de grande impacto ambiental, os pequenos projetos sustentáveis não têm a mesma facilidade e os bancos públicos não conseguem implementar sequer uma linha de crédito facilitada para recuperação ambiental em imóveis rurais. Nesse dia 5 de junho, dia do meio ambiente, convocamos todos os cidadãos brasileiros a refletirem sobre as opções que estão sendo tomadas por nossas autoridades nesse momento, e para se manifestarem veementemente contra o retrocesso na política ambiental e a favor de um desenvolvimento justo e responsável. Brasil, 04 de junho de 2009. Assinam: Amigos da Terra / Amazônia Brasileira Associação Movimento Ecológico Carijós – AMECA Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida – APREMAVI Conservação Internacional Brasil Fundação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional – FASE Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – FBOMS Fórum das ONGs Ambientalistas do Distrito Federal e Entorno Greenpeace Grupo Ambiental da Bahia – GAMBA Grupo Pau Campeche /SC Grupo de Trabalho Amazônico – GTA Instituto Centro de Vida – ICV I.E.S/SP Instituto das Águas da Serra da Bodoquena - IASB/MS Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – IMAZON Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Instituto Socioambiental – ISA Instituto Terra Azul Mater Natura /PR Mira-Serra/RS Movimento de Olho na Justiça – MOJUS Rede de ONGs da Mata Atlântica - RMA Sociedade Brasileira de Espeleologia Via Campesina Brasil WWF Brasil Contatos: Amigos da Terra / Amazônia Brasileira Bruno Calixto, assessor de comunicação - (11) 38879369 e-mail: bruno.calixto@amazonia.org.br Entrevistas: - Brent Millikan, coordenador de projetos Ethos Cristina Spera, assessora de imprensa - (11) 38972400 / (11) 88955740 e-mail: cspera@ethos.org.br Entrevistas: - Ricardo Young, Presidente - Caio Magri, assessor de politicas públicas IMAZON Adriana Fradique, assessora de comunicação – (91) 31824000 / 31824012 e-mail: adriana@imazon.org.br Entrevistas: - Paulo Barreto, pesquisador sênior - Brenda Brito, secretária executiva Inesc Entrevistas: Ricardo Verdum, assessor de Políticas Indígena e Socioambiental – (61) 3212-0200 e-mail: verdum@inesc.org.br Instituto Socioambiental – ISA Katiuscia Sotomayor, assessora de comunicação e imprensa – (61) 30355114 e-mail: katiuscia@socioambiental.org.br Entrevistas: - Raul do Valle, coordenador adjunto do PPDS - Adriana Ramos, secretária executiva adjunta WWF Brasil Denise Oliveira, coordenadora de comunicação – (61) 3364 7400 / 7497 / 81752695 e-mail: doliveira@www.org.br Entrevistas: - Cláudio C. Maretti, superintendente de Conservação (Programas Regionais) - Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente de Conservação (Programas Temáticos) - Mauro Armelin, coordendor do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O viradão Carioca

A programação do viradão Carioca, que vai ultrapassar o de São Paulo, mais uma vez na boa e velha rivalidade entre as cidades, poderá ser conferida no link: 
Para os que vão curtir não se esqueçam que bebida com combina com volante, que violência não combina com diversão. 
O Rio de Janeiro combina com amor, alegria, cultura e tudo de bom que as manifestações artísticas trazem para nós.

Alterações na Lei Rouanet

Esta manhã recebemos informações diretamente do Senado Federal de que a proposta do Senador Crivella para a Lei Rouanet (que as entidades relligiosas também possam se utilizar desse incentivo) teve seu parecer favorável, na Comissão de Educação.
A proposta tramita desde março de 2005.
Confiram: